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Monday, January 28, 2013

Casa ou Apartamento?

Jamais morei em um apartamento e fica sempre a curiosidade e o fascínio por aquilo que você nunca teve. Tenho vontade de vivenciar coisas que são provavelmente rotineiras para quem mora em um condomínio, como alguém interfonando dizendo que chegou a pizza, encontrar as mesmas pessoas casualmente todos os dias, combinar com o vizinho de tomarmos uma cerveja à beira da piscina. Tenho a impressão que vivem todos como em uma tribo ou  uma grande e extensa família, com algum morador fazendo o papel daquela tia chata que você evita encontrar no elevador, um outro é o cunhado folgado que vem pedir coisas emprestadas e a sogra, aquela que mora no apartamento frente ao seu e parece sempre interessada em quem vem lhe visitar.

Quando visito o apartamento de minha sogra que mora no 19º andar, as vezes fico observando da sacada as outras torres e vendo a vida alheia se apresentar ali em vários pequenos palcos. Em um, o ato de um marido chegando, em outro alguém pensativo fumando um cigarro na sacada, em outro ainda, um morador olhando em minha direção, curioso. O barulho das crianças brincando nos parquinhos lá embaixo, algumas pessoas simplesmente caminhando como se caminha por um jardim.  Em um fim de tarde, esta cena reconstrói e traz uma memória de infância, de um tempo em que as pessoas ficavam no portão de casa e as crianças brincavam na rua e todo mundo conhecia todo mundo. Hoje esta convivência entre vizinhos parece limitada a estes condomínios e seus altos muros.

Morar em um casa tem lá suas vantagens; sou consciente de todas as regras que moradores de condomínio têm que seguir e eu aqui não tenho que seguir nenhuma, minha esposa me deixa fazer quase tudo o que eu quero: posso plantar o que eu quiser, consertar coisas até de madrugada se me der na telha, ter quinze cachorros e dez gatos se tiver vontade. Há alguns meses plantei uma bananeira em meu jardim e me traz uma alegria imensa ver como ela cresceu.  Também tenho uma jabuticabeira que faz sua mágica umas duas vezes por ano.

Mas as casas hoje em dia se transformaram em fortalezas também e sem muita outra escolha. As pessoas não ficam mais ao portão e somente em alguns bairros mais populares crianças se aventuram na rua. Na maioria dos bairros -  ou nos bairros de classe media e acima, as ruas são quase desertas. Outro dia eu me perdi procurando por um endereço no Morumbi e não encontrava ninguém para pedir informação, até encontrar um segurança, que são os únicos seres não motorizados que você consegue encontrar deste lado do muro.

Moro em uma casa de esquina com um interessante cenário: em uma rua moram pessoas da classe média; muros altos, carros relativamente novos, cachorros mais de raça e quase nunca ninguém a vista. Do outro lado uma "comunidade": tijolo à vista ( falta de dinheiro e de reboco mesmo ), carros velhos, aquele monte de vira latas na rua e crianças na rua também a toda hora, empinando pipas por entre os emaranhados da rede elétrica até o escurecer e jogando bola depois. Pessoas nas portas, muito barulho, sem contar os nefastos porta malas escancarados nos fins de semana explodindo mal gosto na forma  de funk. Como sou um amante do silêncio sofro um pouco com isto ( já sofri mais e isto eu acho que já comentei em outros blogs ). Não sei o que é pior, a ausência e indiferença que você vê em uma rua ou o barulho constante que você tem em outra. É como viver em uma fronteira entre duas classes sociais, duas realidades diferentes, cada uma com suas características próprias.

Não creio que este será o nosso último endereço e quando sairmos daqui fica ainda decidir se vale a pena mudar para um apartamento e fazer parte de uma grande família ou continuar com uma casa, meio sós mas mais independentes.





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